quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Pedagogia Histórico- Crítica.


            1- Breve introdução:
A Pedagogia Histórico- crítica considera ainda a então nova Psicologia Histórico Cultural de Vygotsky para explicar o novo indivíduo, como aprende e a sociedade na qual está inserido. Por fim, retornaremos à realidade brasileira para observarmos Deremeval Saviani. Junto com outros, estuda e apresenta esta teoria como caminho para sistematizar o ensino brasileiro, como abordaremos nos próximos parágrafos.
2- Comenius, pedagogo visionário a luz do século XVII.
“Age idiotamente aquele que pretende ensinar aos alunos não quanto eles podem aprender, mas quanto ele próprio deseja.” (Komenski)
          Embora seja cronologicamente distante de nós, Jan Amos komenski, vugo Comenius (1592- 1670), um tcheco entusiasmado com a filosofia que criara uma concepção de ciência baseada no empirismo, concebeu os conceitos iniciais de pedagogia e didática que utilizamos até hoje.  Suas ideias são até hoje campo de estudo dos amantes da educação e base de reflexão para novas teorias.
          Quando estudamos a escola como ambiente de aprendizagem, o terceiro educador, e o aluno, compreendido como ser humano, indivíduo de uma sociedade, dotado de inteligência, apitidões, sentimentos e limites, nos arremetemos aos princípios que embasão a pedagogia histório- crítica assim como outras tendências pedagógicas; a educação, direito de todos, como dizia Comenius, “o ensino de tudo para todos” princípios modernos, aceitos somente no século XX, embora defendidos no século XVII, consagrando seu idealizador como o primeiro nome da história moderna da Educação.
               Komenski contribui para mais tarde na fundamentação da pedagogia histórico- crítica, com a sistematização da pedagogia, em “Didactica Magna”. Esquematizou as práticas educativas que iam desde as ações, como prática didática até as teorias, igualando a importância dessas, com as questões do cotidiano de sala de aula. Diferente das tendências tradicionais, a relação professor \ aluno, segundo ele, considera as possibilidades e interesses da criança e ainda, defendia a profissionalização do professor, não mais um missionário, além do que, deveria ser muito bem remunerado. A organização do tempo e do currículo também estão presentes em sua obra, ao racionalizar a importância da aprendizagem dos conteúdos universais de acordo com o tempo produtivo para professores e alunos.
          Realmente notamos que este filósofo e pedagogo rompeu com seu tempo, um homem de concepções políticas discordantes com o estado e a igreja, era cristão protestante, em seu modelo de educação também destacou-se em abrir as portas das escolas a todos sem exceção, os bancos escolares deveriam receber, meninos, meninas (até então à margem da educação escolar), os deficientes físicos e mentais repugnava o pedantismo literário e o sadismo pedagógico, dominantes nas escolas católicas, assim, todos deveriam aprender a ler, escrever e calcular.
          Como vimos nos capítulos anteriores, as tendências pedagógicas respondem às necessidades de sua época, desta forma, Comenius, atendendo a necessidade de sua sociedade, em ascendência nas cidades européias, surgia a burguesia mercantil, parcela da sociedade que a via de regra não pertencia a aristocracia ou ao clero, elevavam seu poder monetário e anseavam igual ascendência cultural, com objetivo de firmar-se em posições políticas e sociais que iam das negociações de pátio do mercado aos paços reais. Como bom protestante também defendia seu modelo de educação, ao oferecer leitura às pessoas para lerem a bíblia e ter o direito de interpretar os textos sagrados de acordo com esta nova ordem religiosa.
          Portanto, retomamos neste capítulo a base filosófica e pedagógica de Comenius que difundi-se com aqueles que vieram depois dele e acreditam que a escola é a peça fundamental para a libertação e apropiação da cultura a todos. O ser humano deve ser visto e respeitado por sua participação na sociedade, independente de sua posição social, etnia, gênero ou características físicas que possam limitá-lo ao acesso de espaços mas não ao capital cultural. As crianças devem ser tratadas com delidadeza e respeito. A criatura humana corresponde ao ideal de perfeição.        
                    3- Contribuições Soviéticas de ideais marxistas: 
         A escola progressita tem seus alicérces fundamentados na escola soviética; contribuíram para tal, Moisei Pistrak (1888-1940) e Anton Makarenko (1888-1939) ambos, pedagogos que reconhecem a importância do trabalho na formação humana, não significando, somente atividade em classe para aprimorar habilidades manuais mas, trata-se do trabalho real em oficinas, sendo uma atividade produtiva entrelaçada à formação cultural. Estes pedagogos soviéticos apresentam característcas em suas obras de base Marxista e Vygotskyana.
Pistrak acreditava que o papel do professor estava no engajamento coletivo dos alunos  e o estudo da atualidade, defendendo a escola dinâmica, ativa, que prepara para a ação, baseada na auto-organização dos estudantes, sem que isso significasse, desvalorizar a figura do professor, tal ideal encontramos baseado como diz Rego (1998), pela mediação que o indivíduo se relaciona com o ambiente, pois, enquanto sujeito do conhecimento, ele não tem acesso direto aos objetos mas, apenas, a sistemas simbólicos que representam a realidade. É por meio dos signos, da palavra, dos instrumentos que ocorre o contato com a cultura.
Assim como Pistrak, guiava-se pelo marxismo, afirmando que o trabalho deve ser real e não simbólico e que não estivesse só ao lado da teoria, pensamento que mantém a dicotomia pensar- fazer, Pires (1997) reforça:
“O método Materialista histórico- Dialético, desenvolvido por Marx, preconiza a interpretação da realidade, a visão de mundo e a práxis (prática articulada à teoria); diz respeito principalmente à materialidade e a concreticidade. O caráter material dispõe sobre a organização dos homens em sociedade para a produção e a reprodução da vida, caráter histórico que os homens constróem através de sua história.”
As contribuições de Anton Makarenko à pedagogia chegaram em um momento semelhante ao vivido atualmente, a sociedade mudou, para tal, como ensinar? O que ensinar? Por onde começar? – Anton foi um dos que ajudou a responder a essas perguntas ao refletir acerca do papel da escola  e da família numa sociedade recém criada, comunista. Sua pedagogia, não mera teoria, ajudou a transformar centenas de crianças marginalizadas, em cidadãos. Suas ações também vão de encontro com as teorias sociointeracionistas de Vygotsky ao pensar que a essência humana é constituida por relações sociais. O método utilizado por Anton era pautado em uma proposta democrática e social, organizava a escola de forma coletiva e levava em conta os sentimentos dos alunos na busca da felicidade, conceito que tinha sentido, somente quando comum a todos. Tais ações levaram a comunidade a pensar em como participar das decisões, prerrogativa nunca antes, oferecida pela gestão escolar. As crianças também tinham direito de opinar quanto suas necessidades na escola. Concretizava-se então, o respeito ao indivíduo participante e peça fundamental do processo de ensino aprendizagem, a criança.
          Toda tendência pedagógica é inspirada pelas necessidades socio-políticas, temporais e específicas de uma sociedade, desta forma, Makarenko valorizava a formação politécnica (conceito esboçado principalmente por Karl Marx, em meados do século XIX, concepção que combina o trabalho produtivo com a educação intelectual), não como profissionalização, tão somente, mas de forma a unir o pensar e agir, ou seja, a medida que trabalhem, os alunos tem condições de aprender as bases científicas das principais atividades produtivas. Tornando-os, futuramente, cidadãos à margem da alienação, pois enxergam o todos através das partes e a visão das partes constituem o processo de formação do todo, como também é fundamentado por Marx, em sua obra, o Capital.
É importante reafirmar que a pedagogia fundamentada por Makarenko apresenta constante valorização ao trabalho, porém não vai de encontro com os ideais escolanovistas, devido ao rigor militar imposto ao ritmo de trabalho e as exigências com a disciplina, que também distanciava da educação centrada no educando.
          4- Dermeval Saviani, precursor da Pedagogia Histórico- crítica no Brasil.
          No final da década de 70 alguns filósofos e pedagogos passaram a investigar e estudar, com base na teoria da escola progressista a educação brasileira. Ao fazer a revisão de nossa educação esse grupo elaborou uma teoria pedagógica, nasce a Pedagogia Crítico- Social dos Conteúdos, Pedagogia Dialética e, finalmente, Pedagogia Histórico- Crítica.
O estudo desta nova pedagogia foi idealizado por Dermeval Saviani, José Carlos Libâneo, Guiomar Namo de Mello, Carlos Roberto Jamil Cury e outros. Sustentaram sua teoria no já visto, materialismo de Marx, Makarenko e Pistrak e na psicologia histórico- crítica de Vygotsky.
Dermeval Saviani Estudou a LDB de 1961 e concluiu que, na verdade, não existia um sistema educacional brasileiro, por que as leis não indicavam planejamento, estudo e intencionalidade para tal ação na educação. Os militares importavam teorias de direita, como o modelo americano tecnicista e não se preocupavam em estudar as necessidades e realidades de nossa sociedade, ao final da ditadura militar surge a pedagogia histórico- crítica defendida por Saviani, inserindo-a na sociedade objetivando, acabar com a escola elitista e excludente, com altos índices de analfabetismo, evasão e repetência, além de iniciar a organização do sistema educacional, (ARANHA, 2010).
Para Saviani a escola é a mediadora do saber, como ressalva ARANHA:
“A atividade nuclear da escola é, portanto, a transmissão dos instrumentos que permitam a TODOS (grafo nosso), a apropriação do saber, elaborado socialmente, como mediadora entre o aluno e a realidade; a escola se ocupa com a aquisição de conteúdos, formação de habilidades, habitos e convicções.” (ARANHA, 2010)
Situação que infelizmente Saviani e os demais não encontraram em nosso país. A ditadura estabeleceu como prática pedagógica as tendências Tecnicistas e Escola Nova, que Saviani considera tradicional e portanto, não crítica, no sentido de que não percebem o comprometimento político e ideológico que a escola sempre teve com a classe dominante. Para essas tendências a escola esta à parte das diferenças das classes sociais.
Portanto, o trabalho educativo, conforme a pedagogia histórico- crítica, consiste em produzir direta ou intencionalmente a humanidade inata dentro de cada indivíduo, esta construção estabelece- se ao respeitar a potencialidade da criança e criar altas expectativas para sua evolução cognitiva, de forma histórica e coletiva.



Referencial:
ARANHA, Maria Lucia de Arruda, História da Educação e da pedagogia: geral e Brasil- 3ª Edição revista e ampliada- São Paulo: Moderna 2010
LUCCI, Marco Antonio. A Proposta de Vygotsky: A Psicologia sócio- histórica. In: Professorado. Revista de curriculum y formación del professorado, 10, 2, 2006. Artigo hospedado no site: http://www.ugr.es./local/recfpro/Rev102COL2port.pdf
PIRES, M. F. C. Artigo Científico: Education and the historical and dialectical materialism; Interface – Comunicação, Saúde, educação, v.1, n.1, 1997.
REGO, C. R. (1998). Vygotsky: uma perspectiva socio- cultural da educação. 5ª Edição, Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1998.
SAVIANI, Dermeval, Pedagogia histórico- crítica: primeiras aproximações. 10ª Edição. Campinas, SP: Autores Associados, 2008






2 comentários:

  1. EU COMO ALUNA DO CURSO DE PEDAGOGIA QUERO LHE PARABENIZAR PELO SEU BLOG , MUITO BOM, POIS ELE ESPLICA A PEDAGOGIA HISTORICO-CRITICA DE FORMA CLARA E OBJETIVA POSSIBLITANDO ASSIM UM BOM ENTENDIMENTO PARA O LEITOR.... PARABENS ,BJUSS JOSIANE PROTÁZIO

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  2. Pistrak foi preso e fuzilado em 1937, no expurgo stalinista. A obra de Vygotsky foi proibida em 1936, sendo republicad nos anos 50, após a morte de Stalin.

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